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domingo, 30 de outubro de 2011

Três dias para ver, por Helen Keller.

Várias vezes pensei que seria uma benção se todo ser humano, de repente, ficasse cego e surdo por alguns dias no principio da vida adulta. As trevas o fariam apreciar mais a visão e o silencio lhe ensinaria as alegrias do som. 
De vez em quando testo meus amigos que enxergam para descobrir o que eles vêem. Há pouco tempo perguntei a uma amiga que voltava de um longo passeio pelo bosque o que ela observara. “Nada de especial”, foi à resposta.
Como é possível, pensei, caminhar durante uma hora pelos bosques e não ver nada digno de nota? Eu, que não posso ver, apenas pelo tacto encontro centenas de objetos que me interessam. Sinto a delicada simetria de uma folha. Passo as mãos pela casca lisa de uma bétula ou pelo tronco áspero de um pinheiro. Na primavera, toco os galhos das árvores na esperança de encontrar um botão, o primeiro sinal da natureza despertando após o sono do inverno. Por vezes, quando tenho muita sorte, pouso suavemente a mão numa arvorezinha e sinto o palpitar feliz de um pássaro cantando.
Às vezes meu coração anseia por ver tudo isso. Se consigo ter tanto prazer com um simples toque, quanta beleza poderia ser revelada pela visão! E imaginei o que mais gostaria de ver se pudesse enxergar, digamos por apenas três dias.
Eu dividiria esse período em três partes. No primeiro dia gostaria de ver as pessoas cuja bondade e companhias fizeram minha vida valer a pena. Não sei o que é olhar dentro do coração de um amigo pelas “janelas da alma”, os olhos. Só consigo “ver” as linhas de um rosto por meio das pontas dos dedos. Posso perceber o riso, a tristeza e muitas outras emoções. Conheço meus amigos pelo que toco em seus rostos.  Como deve ser mais fácil e muito mais satisfatório para você, que pode ver, perceber num instante as qualidades essenciais de outra pessoa ao observar as sutilezas de sua expressão, o tremor de um músculo, a agitação das mãos. Mas será que já lhe ocorreu usar a visão para perscrutar a natureza íntima de um amigo? Será que a maioria de vocês que enxergam não se limita a ver por alto as feições externas de uma fisionomia e se dar por satisfeita?
Por exemplo, você seria capaz de descrever com precisão o rosto de cinco bons amigos? Como experiência, perguntei a alguns maridos qual a exata cor dos olhos de suas mulheres e muitos deles confessaram, encabulados, que não sabiam.  Ah, tudo que eu veria se tivesse o dom da visão por apenas três dias!
O primeiro dia seria muito ocupado. Eu reuniria todos os meus amigos queridos e olharia seus rostos por muito tempo, imprimindo em minha mente as provas exteriores da beleza que existe dentro deles. Também fixaria os olhos no rosto de um bebê, para poder ter a visão da beleza ansiosa e inocente que precede a consciência individual dos conflitos que a vida apresenta. Gostaria de ver os livros que já foram lidos para mim e que me revelaram os meandros mais profundos da vida humana. E gostaria de olhar nos olhos fiéis e confiantes de meus cães, o pequeno scottie terrier e o vigoroso dinamarquês.  À tarde daria um longo passeio pela floresta, intoxicando meus olhos com belezas da natureza. E rezaria pela glória de um pôr-do-sol colorido. Creio que nessa noite não conseguiria dormir.
No dia seguinte eu me levantaria ao amanhecer para assistir ao empolgante milagre da noite se transformando em dia. Contemplaria assombrado o magnífico panorama de luz com que o Sol desperta a Terra adormecida.  Esse dia eu dedicaria a uma breve visão do mundo, passado e presente. Como gostaria de ver o desfile do progresso do homem, visitaria os museus. Ali meus olhos, veriam a história condensada da Terra -- os animais e as raças dos homens em seu ambiente natural; gigantescas carcaças de dinossauros e mastodontes que vagavam pelo planeta antes da chegada do homem, que, com sua baixa estatura e seu cérebro poderoso, dominaria o reino animal.
Minha parada seguinte seria o Museu de Artes. Conheço bem, pelas minhas mãos, os deuses e as deusas esculpidos da antiga terra do Nilo. Já senti pelo tacto as cópias dos frisos do Paternon e a beleza rítmica do ataque dos guerreiros atenienses. As feições nodosas e barbadas de Homero me são caras, pois também ele conheceu a cegueira.
Assim, nesse meu segundo dia, tentaria sondar a alma do homem por meio de sua arte. Veria então o que conheci pelo tacto. Mais maravilhoso ainda, todo o magnífico mundo da pintura me seria apresentado. Mas eu poderia ter apenas uma impressão superficial. Dizem os pintores que, para se apreciar a arte, real e profundamente, é preciso educar o olhar. É preciso, pela experiência, avaliar o mérito das linhas, da composição, da forma e da cor. Se eu tivesse a visão, ficaria muito feliz por me entregar a um estudo tão fascinante.
À noite de meu segundo dia seria passada no teatro ou no cinema. Como gostaria de ver a figura fascinante de Hamlet ou o tempestuoso Falstaff no colorido cenário elisabetano! Não posso desfrutar da beleza do movimento rítmico senão numa esfera restricta ao toque de minhas mãos. Só posso imaginar vagamente a graça de uma bailarina, como Pavlova, embora conheça algo do prazer do ritmo, pois muitas vezes sinto o compasso da música vibrando através do piso. Imagino que o movimento cadenciado seja um dos espetáculos mais agradáveis do mundo. Entendi algo sobre isso, deslizando os dedos pelas linhas de um mármore esculpido; se essa graça estática pode ser tão encantadora, deve ser mesmo muito mais forte a emoção de ver a graça em movimento.
Na manhã seguinte, ávida por conhecer novos deleites, novas revelações de beleza, mais uma vez receberia a aurora. Hoje, o terceiro dia, passarei no mundo do trabalho, nos ambientes dos homens que tratam do negócio da vida. A cidade é o meu destino.
Primeiro, paro numa esquina movimentada, apenas olhando para as pessoas, tentando, por sua aparência, entender algo sobre seu dia-a-dia. Vejo sorrisos e fico feliz. Vejo uma séria determinação e me orgulho. Vejo o sofrimento e me compadeço.
Caminhando pela 5ª Avenida, em Nova York, deixo meu olhar vagar, sem se fixar em nenhum objeto em especial, vendo apenas um caleidoscópio fervilhando de cores. Tenho certeza de que o colorido dos vestidos das mulheres movendo-se na multidão deve ser uma cena espetacular, da qual eu nunca me cansaria. Mas talvez, se pudesse enxergar, eu seria como a maioria das mulheres – interessadas demais na moda para dar atenção ao esplendor das cores em meio à massa. Da 5ª Avenida dou um giro pela cidade – vou aos bairros pobres, às fábricas, aos parques onde as crianças brincam. Viajo pelo mundo visitando os bairros estrangeiros. E meus olhos estão sempre bem abertos tanto para as cenas de felicidade quanto para as de tristeza, de modo que eu possa descobrir como as pessoas vivem e trabalham, e compreendê-las melhor.
Meu terceiro dia de visão está chegando ao fim. Talvez haja muitas atividades a que devesse dedicar as poucas horas restantes, mas aço que na noite desse último dia vou voltar depressa a um teatro e ver uma peça cômica, para poder apreciar as implicações da comédia no espírito humano.
À meia-noite, uma escuridão permanente outra vez se cerraria sobre mim. Claro, nesses três curtos dias eu não teria visto tudo que queria ver. Só quando as trevas descessem de novo é que me daria conta do quanto eu deixei de apreciar.
Talvez este resumo não se adapte ao programa que você faria se soubesse que estava prestes a perder a visão. Nas sei que, se encarasse esse destino, usaria seus olhos como nunca usara antes. Tudo quanto visse lhe pareceria novo. Seus olhos tocariam e abraçariam cada objeto que surgisse em seu campo visual. Então, finalmente, você veria de verdade, e um novo mundo de beleza se abriria para você.
Eu, que sou cega, posso dar uma sugestão àqueles que vêem: usem seus olhos como se amanhã fossem perder a visão. E o mesmo se aplica aos outros sentidos. Ouça a música das vozes, o canto dos pássaros, os possantes acordes de uma orquestra, como se amanhã fossem ficar surdos. Toquem cada objeto como se amanhã perdessem o tacto. Sintam o perfume das flores, saboreiem cada bocado, como se amanhã não mais sentissem aromas nem gostos. Usem ao máximo todos os sentidos; goze de todas as facetas do prazer e da beleza que o mundo lhes revela pelos vários meios de contacto fornecidos pela natureza. Mas, de todos os sentidos, estou certa de que a visão deve ser o mais delicioso.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Indefinido

Talvez a definição de aproveitar o presente não seja mesmo essa que todo mundo pensa. Essa de não deixar as oportunidades escaparem, de fazer novos amigos, de viver e encontrar muitos e muitos novos "amores". Talvez não seja uma questão de quantidade, mas sim de qualidade.

Você diz que não quer se prender ao seu trabalho. Há tanta coisa maior te esperando lá fora, não é mesmo?! Mas e se você der tempo ao tempo? Deixar que o que tenha de acontecer aconteça mesmo. Fazer o seu melhor e se entregar por inteiro onde estiver e quando perceber que já deu o suficiente de ti, e não há mais nada ali que lhe possa acrescentar vá em busca do tão tentador novo.

Você diz que não quer se envolver com uma pessoa só. Sou jovem, estou naquela época da vida em que só queremos curtir, quero encontrar e me divertir (no bom sentido da palavra) com muitas/os que virão por aí. Não quero ficar "amarrado" em uma pessoa só. Mas e se o melhor for se prender a essa pessoa e se você viver com ela momentos felizes e duradouros? E se você abrir mão de um mundo cheio de pessoas lá fora e se dedicar somente a uma? Não fuja dos relacionamentos por achar que vai perder tempo e oportunidades com outras pessoas. O tempo nem é tão curto assim. E se for, você não prefere viver momentos únicos a momentos que com o passar do tempo irão te frustrar e lhe trazer saudades do que você perdeu procurando o novo?

Você diz querer fazer novos amigos, conhecer pessoas diferentes e se surpreender com elas. Mas e se você se dedicar aos "velhos" e "permanentes" amigos? E se você diminuir sua lista de 'Pessoas que conheço' e aumentar aquela lista de 'Amigos de verdade'. Não estou dizendo que conhecer e fazer novos amigos seja ruim, mas que tal não deixar passar o tempo, que poderia ser ocupado com momentos perfeitos ao lado de quem se gosta, para saciar a curiosidade de novas pessoas.

Que tal parar de achar que a vida é curta, que o tempo que temos é pequeno demais. Não dizem que horas ao lado de quem se ama passa como se fossem segundos? Pois então, ao invés de viver anos, décadas, séculos de uma vida de quantidade. Viva alguns desses segundos com quem gosta, com quem a tua presença seja indispensável.

Se permita ao amor, se permita conhecer um pouco mais de quem gosta. Permita também que quem te ama, te conheça, te descubra e te surpreenda a cada dia.
Permita que o tempo passe como tempo, e que a vida passe como vida.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O nome disso é: "Nós"

Sabe o que é? É como quando você segura minha mão e a sua vai escorregando até a ponta dos meus dedos. Quase quando nossas mãos vão se soltar você percebe e segura em minha mão de novo, só que dessa vez mais forte. É como quando no fim do beijo você segura meu rosto e olha bem no fundo dos meus olhos, com um sorriso entre aberto meio bobo, sabe? Tira aquela mecha de cabelo que ficou entre nossos olhos como se estivesse a observar um quadro e não quisesse que nada do que estivesse fora dele te atrapalhasse. É como quando eu digo as bobagens e chatices de sempre e você me aperta em seus braços só pra ter certeza que eu não irei escapar ou desviar de ti ao dizer-me que nada disso importa, e que adora meu jeitinho todo torto de amar. 
Sabe o que é? É esse teu jeito  de me demonstrar que a gente ainda pode se amar.

Sempre continuar




Levanta dessa cama, desse sofá. Levanta para o mundo que te espera lá fora que tem tanto a te oferecer. Outros amores, amizades, empregos, oportunidades, aprendizados e alegrias virão. Assim como outras decepções, frustrações e mágoas também irão te ferir novamente. Mas cabe a você e a mais ninguém o poder da recuperação, o poder de cura, que além de ser divino existe dentro de você. 
Deus nunca dá ao pequeno o que só o grandalhão poderia aguentar. Se você está passando por isso, Deus sabia que você era forte o suficiente para enfrentar.
Então levanta essa bunda que já está quadrada de tanto esperar e vai viver a vida. Enfrenta seus medos, quebre barreiras, construa novos caminhos e sonhos. Vai, você consegue e no fundo, bem no fundo da sua alma você sabe que essa força existe. Ela está ali, juntinho com toda a bagunça. Do lado esquerdo do amor não correspondido e do direito das frustrações. É, bem ali. Já consegue ver? Sim. É este pequeno pontinho brilhante. Ele vai fazer com que você se torne viva de novo, ele vai trazer toda a beleza de volta para os seus olhos, sorriso e coração tão apagados. Vai, minha filha, mas vai sem preguiça. Vai na fé!